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Por , de São Paulo*


O Snapdragon Mobile Masters teve sua primeira edição em terras brasileiras acontecendo entre os dias 12 e 14 de abril no Komplexo Tempo, em São Paulo. O torneio, que reúne disputas entre equipes de Call of Duty Mobile e Free Fire é um dos mais importantes para os esports da plataforma, com uma premiação que chegou aos US$ 90 mil para os vencedores. Estes, por sinal, foram a Qin Jiu Club (COD: M) e Reverse Red (FF), ganhando das equipes brasileiras Galorys e Fluxo, respectivamente, na final.

Entretanto, o torneio, que engloba games com competitivos majoritariamente formados por homens, se destacou por conta de um fator positivo além das disputas acirradas: a alta presença de meninas e mulheres, não somente entre o público, como também apresentando e comentando as partidas. O TechTudo foi convidado pela ESL para cobrir o torneio e falou com algumas delas, como Croft, ex-jogadora de Free Fire e atual diretora da Team Solid, e Joyce “JigJ0y”, caster de Call of Duty Mobile. Veja, a seguir, mais detalhes sobre o assunto.

SPS Mobile Masters ficou marcado pela forte presença de mulheres e jovens meninas na plateia — Foto: Luiza M. Martins/TechTudo
SPS Mobile Masters ficou marcado pela forte presença de mulheres e jovens meninas na plateia — Foto: Luiza M. Martins/TechTudo

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Os esports no Brasil

O cenário de jogos eletrônicos é algo que vem atraindo o interesse dos brasileiros. Nos últimos anos, o país se tornou um dos dez maiores mercados do ramo no mundo, conforme um levantamento realizado pela Newzoo. Na América Latina, é o soberano em termos de consumo, tendo movimentado cerca de US$ 2,6 bilhões apenas em 2022. De acordo com a Pesquisa Games Brasil de 2024 (PGB), mais de 70% dos brasileiros consomem jogos eletrônicos. Nesse cenário, o envolvimento com o cenário competitivo também vem crescendo, o que engloba tanto o consumo quanto a profissionalização dos brasileiros no ramo.

Não à toa, além do SPS Mobile Masters, a cidade de São Paulo recebeu, recentemente, o Rainbow Six Invitational pela primeira vez – vencido, inclusive, pela brasileira W7M Esports. O Rio de Janeiro já recebeu a edição do IEM Major de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) em 2022 e caminha para seu segundo IEM Rio, que vai acontecer em novembro de 2024 - pela primeira vez com CS2. Isso sem mencionar DreamHack Rio, Free Fire World Series e BLAST Pro Series, que aconteceram há mais tempo.

Entretanto, apesar da ascensão e do investimento, os esports ainda são um cenário marcado pelo tratamento diferente dado a homens e mulheres que desejam trilhar carreira no competitivo. Embora, de acordo com a PGB 2024, as mulheres sejam maioria entre os consumidores de jogos eletrônicos (50,9%), as oportunidades para elas no cenário são mais escassas e englobam questões específicas como exclusão, assédio e sobrecarga de trabalho.

Os esports vêm atraindo cada vez mais público ao cenário competitivo, mas a participação de mulheres ainda é limitada — Foto: Divulgação/ESL
Os esports vêm atraindo cada vez mais público ao cenário competitivo, mas a participação de mulheres ainda é limitada — Foto: Divulgação/ESL

As mulheres nesse cenário

Em entrevista ao TechTudo, Luiza “Croft” Trindade, ex-jogadora e técnica de Free Fire e atual diretora de esports da Team Solid, contou mais detalhes sobre sua carreira e os momentos em que teve que encarar essas "especificidades". Ela contou que deu os primeiros passos na carreira quando o jogo “estourou a bolha”, por volta de 2017, e ela começou a gerar muitas oportunidades de criação de conteúdo. Já naquela época, Croft contou que tinha rotinas exaustivas e precisava sempre dar mais para conseguir o reconhecimento:

“Eu dormia cerca de quatro horas por noite. Fiz conteúdos sobre cada detalhe do game – e muitos inéditos. Atuei como jogadora até 2020 e depois me tornei técnica. Fui a primeira, mas muita gente fez isso depois de mim. Não cheguei a achar que não conseguiria, mas sei que nem todas tiveram essa oportunidade.”

Croft contou que foi a primeira mulher a ser técnica de uma equipe da série A de Free Fire. Ela ressaltou, durante a entrevista, que isso não aconteceu por meio de um convite, mas sim porque ela subiu de categoria. "É triste pensar que existem muitas técnicas e jogadoras boas que não vão ter a oportunidade que eu tive. A série B nem existe mais. E essas meninas não são chamadas pro competitivo por serem mulheres", contou ao TechTudo.

A diretora contou que, apesar disso, percebe que o interesse de mulheres pelo game é grande – o que resulta, por exemplo, numa parte midiática mais representativa quando comparada ao competitivo. Durante a entrevista, ela explicou que cerca de 60% das pessoas que jogam Free Fire são mulheres e, por isso, elas assistem muito. A diretora contou que, quando ela foi para o mundo de caster, mudou muito comunidade em que vivia. "Como diretora, ainda convivo com muitos homens, mas como apresentadora, é um meio bem mais equilibrado”, concluiu.

O equilíbrio na mídia citado por Croft ficou visível durante o Mobile Masters. Apesar de, de fato, não haver mulheres em equipes alguma, elas estavam lá em peso como público e, também, na apresentação das partidas. Um dos destaques femininos da transmissão foi Joyce “Joyj0y”, principal comentarista das disputas de Call of Duty Mobile.

Em entrevista ao TechTudo, Joy contou que a paixão pelos games vem desde criança, mas foi durante a pandemia que o universo se expandiu e ela conheceu o mundo da apresentação de esports. Desde então, a caster começou a estudar esse tipo de transmissão e passou por diversos games até se especializar em Call of Duty Mobile. No caso de Joy, ela deixou claro que sempre teve o prazer de trabalhar com gente que estava aberta a explicar e ensinar – a maioria homens, inclusive. “Eu tive experiências boas, mas sei de como o entorno é pesado”, contou ela.

Ao contrário de Croft, que enxerga o cenário competitivo do Free Fire como algo ainda voltado para o público masculino, para a apresentadora, o Call of Duty Mobile é um game que costuma ser mais inclusivo para mulheres – tanto em termos de mídia quanto de competitivo. Ela contou que o cenário é bem diferente do que acontece em Valorant ou CS, e que isso se reflete no público feminino que notou no evento. Para ela, “o COD:M já teve campeonatos exclusivamente femininos e organizações patrocinando lines femininas. Acredito que é um jogo em que as mulheres se sentem confortáveis. Como esse foi o primeiro mundial com público, acho que isso fez diferença e as trouxe para prestigiar.”

Apesar de reconhecer que ainda existe resistência por parte das comunidades e até mesmo de algumas empresas em trazer mulheres para o meio, Joy contou que acredita em mudanças positivas nesse sentido. Ela disse que finalizou as transmissões em êxtase com a sensação de dever cumprido, mas sobretudo por ver o trabalho reconhecido até mesmo por gente que a criticou um dia. E, para ela, esse é um caminho fundamental para trazer ainda mais mulheres ao meio:

“a comunidade também é responsável por isso. Quando eles aceitam que as mulheres estão estudando e se esforçando para estar lá, mais marcas investem e mais delas aparecem”.

Com informações de PGB 2024 e Newzoo

*A jornalista viajou à São Paulo a convite da ESL

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