Dragon's Dogma 2 é o novo jogo AAA da Capcom, lançado mundialmente em 22 de março para PlayStation 5 (PS5), Xbox Series X/S e PC, via Steam. Trata-se de um RPG de ação que se passa em um mundo amaldiçoado por um ciclo que envolve um dragão descomunal e um escolhido, chamado Nascen. A aventura é a sequência de Dragon's Dogma, título original de 2012 e elogiado por muitos jogadores, mas que nunca alcançou grande popularidade, o que acabou por confiná-lo em uma espécie de bolha “cult”.
O novo game promete expandir o mundo vasto do primeiro, bem como atualizar o sistema de batalha e gerar gráficos aprimorados com a RE Engine, motor de criação de jogos da própria Capcom. Afinal, o jogo consegue alcançar esses objetivos? Confira, a seguir, a review completa de Dragon's Dogma 2, que foi jogado na Steam em um PC com CPU Intel Core i9 10900F e GPU RTX 3070 Ti.
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É sobre o caminho, não a chegada
O motivo que me leva a gostar tanto de Dragon's Dogma 2 é, ironicamente, uma das principais críticas que fazem ao título anterior e que permanece nesta sequência: o ritmo desacelerado, cadenciado. Por mais que você queira forçar uma progressão mais rápida em certos momentos, o próprio jogo te impede devido a mecânicas específicas. O resultado é singular e cativante do meu ponto de vista; mas admito ser uma decisão arriscada e que não agrada a uma grande parcela de jogadores.
O game apresenta um mapa extenso (segundo os desenvolvedores, quatro vezes maior que o do primeiro título) para se cruzar a pé. Existem formas de viagens rápidas, porém poucas e limitadas. Falo de carroças que percorrem um trajeto específico e só partem em certos horários do dia; além de pontos de teleporte escassos e para os quais você precisa gastar um item relativamente raro de obter o jogo. Então, se prepare para contemplar a vista e tome seu tempo nas dezenas de ataques durante as longas caminhadas. Ah, também não há cavalos ou qualquer tipo de montaria.
Mesmo a pé, não é possível simplesmente sair correndo sem parar de um ponto A até um ponto B. Há uma barra de vigor, drenada rapidamente nessas disparadas. Além disso, ao sofrer dano, parte da vitalidade é perdida permanentemente até você descansar em uma pousada ou acampar próximo às estradas de terra.
Tudo isso tem a proposta clara de obrigar (ou pelo menos, convidar fortemente) o jogador a explorar o ambiente. Verificar cavernas ou subir colinas em busca de itens; aventurar-se contra inimigos robustos para fortalecer a estratégia de combate; ajudar viajantes e saber mais sobre o passado dos vilarejos… A orientação geral do game é a descoberta; a livre investigação. É mais sobre o caminho do que a chegada. Quando você avança no jogo, percebe que é uma direção de gameplay que fortifica a trama principal, convidando o jogador tanto a masterizar vocações e habilidades quanto a ser digno de corresponder ao chamamento do dragão.
É um jogo que demanda paciência e perseverança, até por certas missões não terem pontos específicos no mapa para guiar o jogador. Dragon's Dogma 2, definitivamente, não te pega pela mão. Em vez disso, frequentemente apresenta pistas de maneira sutil e paulatina, o que deixa clara a reforça a investigação — para cada usuário desenhar um traçado de progressão bem particular e construir sua própria história neste ciclo de mistérios.
Há beleza nesse andar mais cadenciado de um RPG de ação, o que não é novidade no gênero, mas pode desapontar quem busca resultados imediatos e aprecia games como Final Fantasy XVI, The Witcher 3: Wild Hunt e Elden Ring. Quando falo de cadenciado, não é apenas pelo fato de andar a pé ou investir certo tempo em cada missão, mas por outras mecânicas em conjunto, especialmente o sistema de batalha, a principal marca de Dragon's Dogma 2, em que o game realmente brilha.
O papel das vocações no combate
Dependendo da vocação (nome que o jogo dá às famosas classes de RPGs convencionais) escolhida para seu personagem principal, a abordagem durante os confrontos muda radicalmente. De início, é possível escolher dentre quatro: mago, combatente, arqueiro e ladrão. Os títulos já entregam a orientação na luta: o arqueiro dispara flechas de longe e é basicamente obrigatório contra harpias e outras criaturas voadoras; o mago, nesse game, tem mais função de suporte, mas também conjura feitiços ofensivos; o combatente é o bruto do corpo a corpo com espada e escudo; e o ladrão é especialista em ataques furtivos e velozes: bate, corre e pega os inimigos de surpresa.
Cada tipo de oponente exige uma tática diferente para se chegar a um equilíbrio de ataque e defesa. Os saurianos são ágeis, e é preciso esquivar na hora certa para evitar suas mordidas. Decepar a cauda permite restringir o movimento deles. Os ciclopes pedem esforço em equipe para desestabilizá-los, além de terem o único olho como ponto fraco, que pode ser atingido de longe por flechas ou ao escalar seu corpo. Já o golem possui estrutura impenetrável, e somente ataques em seus pontos fracos específicos podem derrubar esse colosso. Quanto aos draconianos, bem… É melhor jogar.
As vocações abordam essas criaturas de maneira diferente. O mesmo vale para cada equipe, com sua gama de personalidades e de habilidades combinadas. Descobrir a maneira adequada de derrotar os inimigos com o seu time e executar esse plano constituem parte central da experiência do game e onde ele, de fato, encanta. Vale muito a pena mudar de vocação para enxergar as criaturas e, consequentemente, o mundo, a partir de novas perspectivas.
Durante os combates, você poderá sofrer de condições negativas infligidas pelos oponentes, como envenenamento, sonolência, incêndio e outras – daí a necessidade de um mago na equipe ou de usar tônicos que eliminam essas interferências. Para deixar o combate ainda mais tática, há fraquezas por elementos e combinações que fortificam ataques. E, quanto mais experiência você adquire com uma vocação, mais habilidades desbloqueia, incluindo principais, de armas e as chamadas aptidões — nome dado pelo jogo às habilidades passivas.
Finalizei a campanha principal como ladrão, mas testei outras vocações, especialmente as de corpo a corpo, como combatente e guerreiro. Foi muito prazeroso dilacerar goblins e escalar ciclopes gigantes com técnicas de combate nas quais a Capcom é especialista (e parece ter se inspirado em Monster Hunter: World em certas partes). Você sente cada impacto, cada perfuração e cada pancada no escudo com muita fidelidade. Porém e infelizmente, também percebe problemas que precisam ser ajustados.
O primeiro deles é a câmera. Por diversas vezes, é frustrante ser enquadrado em um ângulo em que você vê tudo: parede, precipício, céu, costas de aliados – tudo, exceto os inimigos. Reajustar a câmera também é complicado, já que o game não conta com trava de mira. A dica para amenizar isso é evitar lutas em lugares apertados e, se estiver com arqueiro, tenha um cuidado extra com as habilidades de zoom.
Outro transtorno é causado pela inteligência artificial dos membros da equipe. Em Dragon's Dogma 2, você só possui controle direto do personagem principal. Os outros três membros da party agem de forma semi-independente, reagindo a comandos genéricos como Vá, Espere e Socorro, conforme a personalidade pré-estabelecida de cada um. Você só consegue customizar habilidades do seu ajudante (peão) principal. O resultado de alguns combates pode ser bem bagunçado, imprevisível e bizarro, com peões que escolhem lutar à beira de precipícios, demoram a recalcular a rota durante deslocamentos ou se colocam no meio de diversos oponentes, atrapalhando mais do que ajudando.
O peão fica com o jogador durante toda a jornada e, assim como é possível mudar ataques, atributos e a vocação do protagonista, você também pode mudar os dele. Mas, diferente de jogos como Final Fantasy 7 Remake, não é possível alterar o controle para o peão e retornar para o personagem principal. É uma experiência singular, em que a formação da party e a forma de combater cada tipo de oponente precisam ser planejadas. Isso confere a Dragon's Dogma 2 um aspecto mais de estratégia do que puramente ação, em que você assume muito mais o papel de um organizador de equipe do que o de um destaque solo de combate.
Embora não conte com o dinamismo de troca de papéis em tempo real que alguns RPGs modernos trazem e, por ser um título single player e sem co-op, abdique do aspecto social fundamental do gênero, Dragon's Dogma 2 consegue ser bem-sucedido no que se propõe. As batalhas compõem metade dessa conquista, e a outra parte é construída pela história enigmática e envolvente.
História: ligados pelo coração
O enredo de Dragon's Dogma 2 gira em torno de um misterioso laço entre um guerreiro e um dragão; conexão que se perpetua por séculos em um ciclo aparentemente sem fim. De tempos em tempos, o dragão vermelho, que leva destruição por onde passa, depara-se com um cidadão destemido, sem receios de colocar sua própria vida em risco. Ele não é páreo para a criatura, que, embora vença o confronto sem dificuldades, reconhece a bravura do oponente.
É neste momento que assistimos à cena clássica da franquia: com uma unha, o dragão perfura o peito do guerreiro, retirando e engolindo o seu coração, o que reinicia o ciclo. A partir desse ponto, o escolhido pelo dragão é chamado de Nascen, e a ele cabe reclamar seu trono, governar pelo bem da sociedade e ter um embate final contra a criatura, derrotando-a ou sucumbindo novamente.
Nessa jornada, o Nascen conta com a ajuda de peões, seres de outro mundo que devem servir o escolhido sem hesitação. Ao jogador, é permitido customizar o seu peão principal, que fará companhia ao longo de toda a jornada. Outros dois peões podem se juntar ao time, recrutados por meio de fendas dimensionais ou ao longo da jornada, vagando por estradas. Apenas seu peão principal sobe de nível e recebe novas habilidades, enquanto os demais podem ser substituídos a qualquer momento, inclusive por peões criados por outros jogadores, caso a opção esteja habilitada. Já fica o aviso de que esse é o máximo de interação online que o jogo permite.
A primeira missão do Nascen é, justamente, lembrar-se de que é um Nascen. Ele perdera as memórias em circunstâncias suspeitas e acabou preso em uma mina para trabalhar como escravo. Então, assim como o jogador, o protagonista também começa a história no escuro. Além de compreender o papel ao qual está predestinado e os eventos misteriosos que o acompanham, precisa desvendar como foi parar naquele buraco, quem tramou sua derrocada e por quê.
É um excelente pontapé para a trama e que basicamente dispensa a necessidade de se jogar o Dragon's Dogma original para entender a história, já que a lenda é contada e vivenciada novamente do zero. Eventualmente, acabamos nos envolvendo em conspirações por poder, disputas políticas e grupos obscuros que desejam imitar os poderes dos Nascen — os quais você nem sabe exatamente quais são.
Se as missões principais desenrolam o fio do mistério e te aproximam cada vez mais da verdade sobre o dogma do dragão, as secundárias poderiam ser melhor desenvolvidas. Muitas seguem o esquema maçante de leva e traz ou vá até certo local e elimine uma horda de inimigos, que pouco ou nada contribuem além de te guarnecer de itens, moedas e experiência para subir de nível de personagem e de ranque de vocação. Uma conexão melhor com a trama principal e missões mais criativas seriam bem-vindas, como as de The Witcher 3: Wild Hunt ou mesmo de Cyberpunk 2077. As de Dragon's Dogma 2 são pouco apelativas e quase não me fizeram querer sair do curso principal da história, que cujo final padrão alcancei com 25 horas de gameplay.
Dragon 's Dogma roda bem no PC?
O ponto mais fraco do game não é intrínseco ao gameplay, à história, ou à ambientação. Infelizmente, é o desempenho, que decepciona de fato. Joguei a campanha inteira no PC, com componentes bem mais robustos que os recomendados pela página da Steam e, mesmo assim, tive uma experiência frustrante, desde texturas que não carregavam a quedas bizarras de quadros por segundo.
O jogo é pesado, bastante exigente com CPU e memória de placa de vídeo. Dragon 's Dogma 2 é visualmente exuberante, mas precisamos reconhecer que não apresenta os melhores gráficos da geração. O seu mapa, embora vasto, também não constitui um mundo absurdo de grande. Esses fatos levam a crer que existem problemas de otimização.
Isso é uma surpresa negativa, uma vez que a RE Engine, motor gráfico no qual o jogo foi construído e de propriedade da própria Capcom, tem se mostrado eficiente e econômica, como vimos em Resident Evil Village, em Devil May Cry 5 e até em Street Fighter 6. Porém, é a estreia dela em jogos de mundo aberto, e há indícios de que ainda precisa ser lapidada para tal. Além disso, possivelmente, houve pressa para o lançamento de Dragon's Dogma 2 se encaixar no mês de março, ainda no ano fiscal da empresa. De qualquer forma, a Capcom já anunciou que está trabalhando em melhorias e, embora irritantes, esses problemas não são críticos a ponto de impedir a diversão e o fechamento da história.
Dragon 's Dogma vale a pena?
Com mundo aberto vívido, história intrigante e sistema de combate prazeroso, Dragon's Dogma 2 só não brilha mais devido aos frustrantes problemas de otimização. Se você ignorar as quedas de FPS — dentre outros sufocos — e imergir na fantasia na qual reis são escolhidos por dragões em um laço secular e misterioso, terá dezenas de horas de diversão garantidas. E manterá o coração intacto.
Uma jornada marcante
Diversão garantida se você tomar seu tempo para explorar as cidades, testar diferentes vocações e combinações de peões. A versão de PC sofre com má otimização, e IA de aliados pode ser irritante, porém a história e o combate compensam e prendem o jogador do início ao fim.🎥 Cada boss mais chato que o outro. Veja os chefes mais difíceis dos games!
Chefões que todo gamer passou muita raiva para matar!
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